O mundo que é a casa
Entre os finalistas do Prémio LeYa do ano passado, encontrava-se um romance bem escrito e especialmente bem-humorado de uma estreante, Graça Videira Lopes, que foi professora universitária de Literatura Medieval e agora, que tem tempo livre, resolveu dedicar-se (e muito bem!) à ficção. A Casa Ocupada, assim se chama o seu livro de estreia, fala das famílias que vão ocupando ao longo de um século um palacete de Lisboa, mandado construir por um brasileiro torna-viagem em 1889 para nele instalar a numerosa prole (que não cessou também de aumentar fora de casa). O edifício – abandonado pelos anos 1950 e ocupado na sequência do 25 de Abril de 1974 – está hoje transformado num condomínio de luxo onde moram Júlia e Pedro, um jovem casal endinheirado. É pela voz de Júlia – curiosa sobre o passado da casa –, mas também pela de outros narradores, que vamos conhecendo não só as histórias das próprias personagens, mas também as que elas vão gradualmente descobrindo: a do republicano José Anastácio, o primeiro proprietário do palacete; e a do pai de Pedro e de Sofia, maoista em tempos da Revolução de 1974 e empresário de sucesso muitos anos depois. Inteligente, divertido e cheio de surpresas, este romance toma as décadas anteriores à implantação da República, os anos da Revolução e os tempos atuais para nos oferecer um retrato breve e irónico de algumas elites portuguesas, raramente tratadas em romances. A não perder!