O país amigo
Durante e logo a seguir à Segunda Guerra Mundial, entre 1947 e 1952, num programa levado a cabo pela Cáritas para poupar os mais novos à fome e à destruição de suas casas e cidades, Portugal recebeu várias crianças austríacas que vinham para morar com famílias que nem sequer conheciam: algumas ficaram por aqui meses, outras muitos anos, outras para sempre (cheguei a conhecer uma dessas raparigas que acabou por se casar com um português). Vinham de comboio de Viena até Génova, em cujo porto apanhavam o barco para Portugal, e depois eram distribuídas por vários pontos do país amigo, chegando a chamar «pais» a estes pais que as acolhiam e lhes davam carinho num momento de trauma. Muitas delas nunca mais se esqueceram de Portugal, onde fizeram tantos amigos, e voltavam para passar férias sempre que podiam. A escritora de literatura infanto-juvenil Rosário Alçada Araújo, contemplada com uma bolsa de criação literária da DGLAB, dedicou-se à investigação das «Crianças Cáritas» – assim ficaram conhecidas – e publicou recentemente O País das Laranjas, uma história ficcionada à roda de dois irmãos austríacos – Martha e Peter – que vêm para Portugal nesses anos da guerra. Ainda não o li, mas é um bom assunto para um romance juvenil num tempo em que os «refugiados» estão na ordem do dia e muita gente foge de países em guerra e procura um destino melhor. Quanto mais cedo os pequenos leitores tiverem conhecimento destas histórias, melhor. Parabéns à autora pela escolha do tema.