O pessoano
No verão, os jornais optam normalmente por cadernos ligeiros, com reportagens leves e questionários um tanto ou quanto cuscos – para que praia vais, qual é o teu prato favorito, o que vais ler nas férias, que viagem gostarias de fazer, coisas assim… Por sorte, este ano o suplemento P2 do Público resolveu sair durante o Verão com grandes entrevistas – e a que li no dia 16 de Julho a Jerónimo Pizarro feita por Isabel Lucas era mesmo interessante. Pizarro é colombiano – mas português de coração, uma vez que é doutorado em Linguística Portuguesa, é professor titular da cadeira de Estudos Portugueses na Universidade dos Andes, viveu em Portugal muitos anos e é um dos grandes especialistas mundiais na obra de Fernando Pessoa (com livros publicados na Tinta-da-China) para a qual foi despertado pelo Livro do Desassossego. Conta que se apaixonou pela literatura para fugir à violência da política (era jovem na época de Pablo Escobar e teve parentes sequestrados e mortos); e, aos 13 anos, já trabalhava na loja da avó para ganhar uns cobres para poder comprar livros (Dostoiévski, Cortázar, Hermann Hesse e muita poesia). Nós agradecemos que os estrangeiros cultos se interessem pelos nossos escritores e digam que Pessoa já se tornou imagem de marca e uma porta por onde muitos entram em Portugal. E percebemos quando Pizarro diz que uma das razões por que é tão bom viver em Portugal tem que ver com essa sensação de segurança que falta realmente em tanto lado. Entrevistado e entrevistadora estão de parabéns. Leitores, não percam a entrevista, por favor.