O que ando a ler
Por ocasião da entrega do Prémio LeYa 2023 a Victor Vidal, autor de Não Há Pássaros Aqui, no próximo dia 3, será organizada na residência do Embaixador do Brasil uma conversa entre o vencedor e outro autor brasileiro premiado e moderada pelo jornalista e escritor João Gabriel de Lima, que conheci por ter sido finalista do Prémio Saramago com o belíssimo O Burlador de Sevilha no mesmo ano que José Luís Peixoto o venceria com Nenhum Olhar. É de Stênio Gardel que leio A Palavra Que Resta, vencedor do National Award nos EUA na categoria de livros traduzidos, até para poder acompanhar a conversa a cem por cento, e enquanto estou sempre a pensar como é que a tradutora deu conta do recado, pois a linguagem é poética e terna, mas muito típica de uma camada rural brasileira, obrigando, até para os portugueses, a algumas notas de rodapé. Dois rapazes apaixonam-se, mas o meio onde vivem é hostil e bruto, e os pais, quando sabem, além da tareia da praxe, proibem-nos de se voltarem a ver. Percebemos então que na família de um deles, na geração anterior, houve uma história feia que começou do mesmo modo mas acabou em morte. Mesmo assim, Raimundo não quer deixar de se encontrar com Cícero, ainda que para isso tenham de fugir dali; mas de Cícero recebe apenas uma carta, a palavra que resta? Só que Raimundo não sabe ler, e a carta é, porém, demasiado pessoal para se poder mostrar... Num pequenino romance com ecos do Grande Sertão: Veredas, embora, claro, menos ambicioso, muita ternura e também muita dureza numa história que ainda não sei como acabará, mas recomendo pela sua prosa bonita e pelo início com a professora Ana, que não vou contar.