O que ando a ler
Tenho lido muito mais livros de autores estrangeiros do que de portugueses nos últimos tempos. Eu, que andava sempre atrás de tudo o que saía de novos autores, tenho uma boa lista de literatura portuguesa em atraso, nem sei explicar bem porquê. Mas agora, para me redimir, ando a ler um livro que me foi oferecido pela própria autor, Djaimilia Pereira de Almeida, de quem fui editora quando se estreou com o excelente Esse Cabelo. A esse livro que era um híbrido de ficção e autobiografia sucedeu o vencedor do Prémio Oceanos (Luanda, Lisboa, Paraíso), que era talvez mais próximo de uma ficção tradicional, e houve mais uns quantos livros pelo meio com géneros difíceis de definir, mesmo que um deles tenha ganho o Prémio de Romance e Novela da APE (Toda a Ferida É Uma Beleza). Este novo livro intitula-se O Livro da Doença e, embora não lhe possamos obviamente chamar ensaio, não é também ficcional, partindo, aliás, da morte algo inesperada e prematura do pai da autora e do facto de este dizer que andava a escrever um livro (que nunca foi, porém, encontrado); desse ponto de partida chegaremos a muitos outros lados, como uma fase em que a própria autora esteve doente ou a história de um rapaz chamado Fidel que foi mais ou menos adoptado pela família, para regressarmos depois ao pai e ao seu livro inexistente, mesmo que muitíssimas vezes referido pelo próprio. O de Djaimilia existe é um livro de grande maturidade, com um estilo marcante que é só dela, de alguma forma um livro que se pode considerar difícil, mas que, chegando a ele, é maravilhoso. Se não conhecem a autora, espreitem-na.