O que ando a ler
Mais ou menos na mesma altura em que me pedem uma mini-entrevista sobre a importância dos clássicos da literatura, deito a mão a um clássico alemão, Mário e o Mágico, uma das novelas italianas de Thomas Mann, menos conhecida do que Morte em Veneza, porque esta teve filme – e que filme! –, mas não menos interessante. Com muitos curiosos pontos de contacto com outros livros que têm por cenário estâncias balneares (A Ilha, de Sándor Márai, A Ilha, de Giani Stuparich, ou mesmo a parte inicial de O Diletante e a Quimera, de Pedro Medina Ribeiro), Mário e o Mágico tem a sua acção centrada numas férias de Verão em finais dos anos 20 e foi publicado originalmente em 1930. A bela Itália é o destino de lazer de uma família alemã (pai, mãe e casalinho de filhos), que suporta mal o calor de Agosto em Torre Venere e as atitudes dos burgueses e aristocratas locais algo xenófobas e nacionalistas. Porém, apesar de terem vontade de regressar (melhor, de não ter chegado a ir), a verdade é que vão ficando, porque as crianças aproveitam o sol e a praia e, enfim, não faz sentido estragar-lhes as férias. A tragédia, contudo, anuncia-se logo nos primeiros parágrafos, e acontecerá durante um espectáculo de prestidigitação, cuja vedeta se comporta como um ditador, capaz de manipular e humilhar o público; um ditador que é tão-só uma alusão à ascensão de Mussolini e do fascismo italiano e ao momento em que, abdicando da sua individualidade, os homens passam a agir como títeres e a aceitar o que lhes é imposto. Narrado como uma conversa entre o veraneante e um interlocutor desconhecido, esta é uma novela sobre como certos comportamentos privados podem levar ao estabelecimento de regimes totalitários.