O que ando a ler
Ler um calhamaço num virote é sempre bom sinal – e as páginas deste Os Interessantes, da norte-americana Meg Wolitzer, realmente voam. O romance é de grande lucidez e a autora tem um invejável sentido de observação (invejável é, de resto, a palavra certa, pois a inveja é aqui coisa tão central como o talento, umas vezes sobrevalorizado, outras desperdiçado). Esta é a história de um grupo de adolescentes que se conhecem num campo de férias em 1974: dois irmãos bonitos e ricos, um gordo genial, uma aspirante a bailarina, um rapazinho tristonho filho de uma cantora folk – todos a viverem em Manhattan – e uma outsider que rapidamente se torna insider, a Julie órfã de pai e suburbana que acaba o Verão como Jules, um nome menos vulgar e mais de acordo com a actriz de comédia que descobriu poder ser. O Vietname não foi assim há muito tempo, o caso Watergate levou à demissão de Nixon enquanto os jovens gozavam as suas férias criativas, mas ao longo da vida destes seis interessantes, cuja evolução acompanharemos com muito interesse, como manda o título, assistiremos igualmente a trinta anos de história americana, culminando com a crise dos mercados que o país ainda está a sofrer. O destino das personagens será bastante surpreendente (tendo em conta, sobretudo, o sucesso que imaginaram para si próprias nesse ano longínquo no campo de férias), com muita decepção e resignação à mistura, mas também com amizades que por vezes ameaçam até os casamentos (ou ajudam a salvá-los em momentos de grande fragilidade). Um romance realmente interessante, raro – sem nada a mais apesar das suas quase seiscentas páginas – que merece ser lido e cumpre tudo o que promete.