O que ando a ler
Com meia tarde livre num domingo de trabalho atrasado trazido para casa no fim-de-semana, lancei mão ao mais recente romance de Milan Kundera (na verdade é tão pequeno que lhe chamaria apenas uma novela ou coisa assim), A Festa da Insignificância, título, de resto, belíssimo. A letra gorda ajuda a que as páginas corram depressa sob os nossos olhos, e pareceu-me ideal para quem, como eu, tinha pouco tempo. Conheci, pois, com muito prazer um grupo de homens maduros – Alain (que gosta de miúdas novas), Ramon (que não tem paciência para filas), D’Ardelo (que mente sobre o cancro que não tem), Charles e Caliban (que organizam cocktails em empresas ou casas particulares, entre elas a de D’Ardelo). Quando se juntam (sem D’Ardelo, que não é um amigo, embora os conheça), contam divertidas histórias de Estaline (Kundera sabe do que fala), têm saudades das respectivas mães e conversam, claro, sobre a insignificância, que um deles defende ser a essência da vida e estar presente, mesmo que nos recusemos a vê-lo, nas instâncias mais dramáticas da existência. Um livro com imenso humor que fala de coisas muito sérias, este A Festa da Insignificância talvez não mereça a celebração de alguns livros mais notáveis do escritor checo, mas vale ainda assim a pena ser degustado, sobretudo pela inteligência com que nos apresenta a vida contemporânea (e às vezes realmente insignificante).