O que ando a ler
O primeiro livro de ficção que acompanhei nos meus dias inaugurais de actividade editorial, ainda como assistente e em part-time, foi O Jardim de Cimento, de Ian McEwan, que era também o primeiro romance do autor; e, sei lá se por isso, li toda a sua obra ficcional publicada, tirando um libreto. Ocupo-me agora de A Balada de Adam Henry, um relato surpreendente sobre a vida de uma juíza de 59 anos, Fiona, a atravessar uma crise conjugal e a sentenciar todos os dias sobre casos de famílias desavindas, nos quais as crianças (que não teve) são quase sempre as principais vítimas. O marido adora-a – ama-a, na verdade –, mas de repente falta-lhe o sexo, não quer sentir-se velho nem morto e julga poder, fora de casa, ter uma parceira com a autorização de Fiona, o que origina uma ruptura no casal. Ao mesmo tempo, num hospital, um jovem prestes a atingir a maioridade recusa uma transfusão de sangue por pertencer às Testemunhas de Jeová e os seus médicos apelam ao Tribunal para que se evite a sua morte dolorosa. Nem sabe Fiona como este episódio judicial e o seu encontro com o jovem Adam irá ajudá-la a resolver os problemas que tem dentro de casa. Ian MacEwan é um veterano, mas dá gosto ver como investiga a Lei e o Direito e não se encosta apenas ao seu poder criativo, trazendo-nos histórias incríveis que cruzam provavelmente os tribunais do mundo inteiro. E, tal como em outros romances que li dele (já aqui falei de alguns, mas destaco A Criança no Tempo, um dos meus favoritos), mostra conhecer o lado feminino com grande profundidade e saber o que pensam e sentem as mulheres em várias situações. Estou perto do desfecho, mas sinto que vêm notícias más a caminho para a juíza Fiona e para Adam... De todo o modo, são boas notícias para os leitores: este A Balada de Adam Henry é um grande romance. A tradução, muito boa, é de Ana Falcão Bastos.