O que ando a ler
O Luto de Elias Gro, romance de João Tordo publicado há cerca de um ano com o selo da Companhia das Letras, foi, curiosamente, escrito por Lars D., personagem do mais recente O Paraíso segundo Lars D., também de João Tordo. Confusos? Não fiquem. O que quero dizer é que, neste novo livro de Tordo que ando a ler – e que tem como personagem Lars D., um escritor doente e terrivelmente amargurado –, aprendemos que ele deixou um livro terminado antes de desaparecer de casa num belo dia e que essa obra tem o título do romance que João Tordo publicou há um ano (e que ainda não li). Esta é, porém, apenas uma marca deste autor que, desde que me lembro, gosta de usar personagens de uns livros noutros livros e de ligar romances que, às vezes, não têm outros laços além de um pequeno pormenor como esse. O Paraíso segundo Lars D. conta a história de uma ausência demasiado presente – a de Lars, um homem de meia-idade que encontra uma rapariga bonita a dormir dentro do seu carro e que, oferecendo-se para a levar à estação de comboios por sugestão da mulher, para que ela encontre um caminho que já perdeu, não mais regressa a casa. É esta mulher abandonada que nos narra a história, não a do que realmente aconteceu ao marido depois de ter saído com a rapariga (essa ser-nos-á relatada por um narrador impessoal numa segunda parte e tem momentos muito fortes), mas a do seu casamento de anos com o escritor e a da grande cumplicidade que encontra num jovem vizinho, estudante de Teologia, com quem acaba por partilhar o drama que está a viver. Um livro sobre o medo e a solidão e sobre a incapacidade que alguns têm de viver a alegria.