Para ser completamente sincera, ainda não deixei de ler poemas que foram cantados no fado, pois estou a preparar um trabalho sobre a matéria. Mas, entre essas leituras e as do trabalho, ando agora a espreitar um livro para o qual a minha curiosidade foi despertada por uma reportagem de fim-de-semana publicada num dos nossos jornais. Trata-se de uma história que poderia chamar-se com propriedade Da Síria, com Coragem, mas se intitula apenas Nujeen, que é o nome de uma autêntica heroína: uma rapariga com paralisia cerebral que atravessou a Síria arrasada pela guerra de cadeira-de-rodas, na companhia da irmã, e juntas, usando o inglês que tinham aprendido nas séries de TV (a televisão às vezes faz milagres) fizeram mais de 5000 quilómetros até alcançarem a Hungria, com a esperança de conseguir asilo na Alemanha. Nujeen tem hoje 16 anos e conta-nos o seu êxodo e como é ser refugiada, narrativa em que foi ajudada por Christina Lamb, a escritora que já fora co-autora de um livro sobre outra menina-coragem: Malala Yousafzai. Se gosta de testemunhos empolgantes e lhe interessa o que se está a passar no mundo sob a indiferença de muitos poderosos, este é um livro importante para se pôr em dia, contado por alguém que esteve do lado de dentro da história.
5 comentários
Beatriz Santos 03.12.2016
Discordo. Apesar de tudo, o casamento - ou a união de facto que para mim tem os mesmos efeitos práticos - ainda me aparece como a reunião mais indicada para educar a geração seguinte e aprender a viver em sociedade. Claro que há quem não sirva para ele. Conheço mesmo quem se tenha casado sem uma réstea de apetência para tal relação; não o deveriam ter feito, isso é causa de mau estar em outrem e seu. Mas em todas as profissões sabemos de gente assim. E não é por essa razão que as mesmas deixam de ser eficazes e necessárias. Por que não há-de passar-se o mesmo com o casamento? Porque se baseia nos afectos e eles não são eternos? Ok. E isso que tem? Nós também não o somos. Há os que duram muito. Os que duram pouco. Os que duram a vida toda. E há quem nunca se case. Se vá casando. Quem repudie compromissos. Quem goste de viver só e seja de companhia aos bocadinhos. Cada um fará da sua vida o que pode e como entende poder. Mas a variedade familiar que hoje existe não repudia os laços entre os membros
Cara Beatriz Discorda de quem? De mim, que apenas transcrevi duas ou três das 259 páginas do livro, ou de Julian Barnes, que as escreveu todas? Se ler o livro vai encontrar lá as diferentes versões de algumas das variações que invoca: «(…) Há os que duram muito. Os que duram pouco. Os que duram a vida toda. E há quem nunca se case. Se vá casando. Quem repudie compromissos. Quem goste de viver só e seja de companhia aos bocadinhos. (…)» No livro há um pouco disso tudo, e apresentado nas diferentes perspectivas de cada um dos protagonistas. Como referem Barnes e a Beatriz, estes assuntos não são lineares. Cada caso é um caso. E mais: cada protagonista tem a sua perspectiva. E mais ainda: quando se trata destes problemas no concreto, cada um de nós “mente como uma testemunha ocular” – como refere Barnes invocando o antigo provérbio na página que eu citei. E – digo eu – tem sido assim desde há milénios… Eu concordo – e estou certo que Julian Barnes concordará – com o que diz a discordante Beatriz: «Cada um fará da sua vida o que pode e como entende poder». É que isto, é das tais coisas: não há volta a dar-lhe. Assim sendo, a Beatriz discorda de quê?
Na verdade apenas discordei da visão pouco optimista acerca do casamento. Não entendo que todos terminem como é dito, que as pessoas percam a capacidade de gostar umas das outras e mantenham muito acesa a de fazer sofrer . Penso que não é regra ainda que conheça o tipo de pessoas de que fala. O carácter é fundamental ao longo da vida, mas destaca-se sobretudo em situação de sofrimento.