O que ando a ler
Julgo que foi Pessoa quem disse que um bom livro infantil deveria ser lido com o mesmo prazer por crianças e adultos. Realmente, há livros para crianças que as tratam como pobres tontinhas, e nenhum adulto suportaria lê-los até ao fim. Mas nem todos, graças a Deus. É o caso do livro que ando a ler (sim, era aqui que queria chegar) e, embora não costume dedicar-me à literatura infanto-juvenil, vi que Mia Couto o elogiava e achei que devia espreitar. Era, ainda por cima, o vencedor do Prémio Branquinho da Fonseca, atribuído anualmente pela Fundação Calouste Gulbenkian e o jornal Expresso a escritores entre os 15 e os 30 anos, que já contemplou autores que hoje estão confirmadíssimos, como Rita Taborda Duarte (também poeta), ou livros que depressa se tornaram conhecidos, como O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca, de Ana Ferreira Pessoa. O premiado mais recente, O Gato Que Chorava como Pessoa, do jovem enfermeiro Geremias Mendoso (parece pseudónimo, mas não é), é um livro de contos contados na primeira pessoa, cuja acção decorre em Moçambique, pátria do autor, num estilo ternurento e sensível mas ao mesmo tempo sem paninhos quentes nem moralismo (por vezes até com uns insperados socos no estômago). Ainda só li umas vinte páginas, mas já posso dizer que, mesmo sendo adulta, de certeza que não vou deixar o volume a meio. Publica a Caminho e tem algumas ilustrações de Samuel Djive.