O que ando a ler
Como qualquer pessoa que estudou Literatura Inglesa na universidade, detive-me, claro, na obra de Shakespeare; mas a sua vida nunca foi flor que se abrisse nessas aulas, até porque houve sempre muito mito e pouca certeza sobre a vida de um dos mais incríveis criadores de sempre. Talvez até por desconhecer os pormenores da sua vida familiar (pai, mãe, irmãos, mulher, filhos, e a relação de William com todos eles), li com ainda maior interesse e curiosidade o romance Hamnet, de Maggie O’Farrell, que conta, com base na informação realmente existente e com uma pequena dose de ficção bem-vinda (de resto, assumida pela escritora), como o génio do teatro conheceu a mulher que o enfeitiçou, como se casaram e tiveram três filhos, como um desses filhos, Hamnet, morreu ainda criança e como os pais e as irmãs (mas sobretudo a mãe) reagiram a esse episódio trágico. Extremamente poético, visual, com descrições belíssimas do campo e cheio de nomes de ervas e plantas que enchem o ouvido e cheiram bem, esta é uma prosa muito rica de uma autora que apetece acompanhar. O romance venceu no ano passado o Women’s Prize for Fiction e foi considerado “excepcional” pela New Yorker, um excelente sinal. A tradução é de Margarida Periquito.