O que ando a ler
Um dos livros mais incríveis que li sobre uma relação amorosa entre pessoas de idades diferentes foi, sem sombra de dúvida, A Única História, do querido Julian Barnes. No caso, o jovem pequeno-burguês que a mãe inscreve no clube de ténis com o intuito de que ele arranje uma namorada com posses e estatuto é um feitiço que se vira contra o feiticeiro, porque o rapaz se apaixona por uma balzaquiana e ainda por cima casada. E, não bastando o desgosto da mãe, ele próprio fica destroçado com aquela relação, ao ponto de a mulher mais velha se tornar «a única história» de amor da sua vida. É também neste sentido (uma mulher mais velha com um rapazinho trinta anos mais novo) que vai o mais recente livro de Annie Ernaux, publicado em França pouco antes de a autora francesa saber que ganhara o Prémio Nobel da Literatura: uma mulher de 54 anos (a própria escritora) acaba por se envolver com um jovem tímido (O Jovem é mesmo o título do livro) que é seu admirador e, por acaso, vive em Rouen, o lugar onde ela estudou e aonde regressa para reviver muitos episódios de juventude (entre eles o do aborto tratado em O Acontecimento). Mais do que uma relação amorosa, é, contudo, um regresso a uma vida passada, às memórias da juventude; e, tal como no livro de Barnes, não há o cliché de a mulher mais velha ser abandonada pelo rapaz novo, mas a novidade de deixar o «jovem» ciumento e inconsolável. Na verdade, lê-se numa hora ou duas, é um conto longo, nem mesmo uma novela, e as páginas restantes são fotografias da autora de quando teve o caso e mais elementos biográficos.