O que ando a ler
No dia 1 devia estar a pensar noutras coisas e esqueci-me de falar sobre o que ando a ler. Na verdade, ando a ler há demasiado tempo um livro pelo qual me tenho arrastado, pois não consegui gostar no princípio, achei que tinha de perceber porquê mas, com o virar das páginas, nunca tive um pingo de empatia nem pela história, nem pela prosa enfatuada, e muito menos pelo protagonista, que senti demasiado caricatural e sempre igual (mesmo que seja o objectivo, evidentemente, torna-se muito chato). Assumo, porém, que o problema deve ser meu, que já há muito que ando a embirrar com livros escritos integralmente no Presente do Indicativo, em tempo real, como guiões ou notas que os autores tomassem para um romance, mas não o romance propriamente dito. E digo-vos que o problema deve ser meu, pois a badana está cheia de encómios de críticos respeitados e escritores imaginativos e virtuosos (Bruno Vieira Amaral, Valter Hugo Mãe, João Tordo...) que repetem a palavra «brilhante» a propósito da obra, explicando, aliás, porque foi A Dor Fantasma, de Rafael Gallo, o mais recente vencedor do Prémio Literário José Saramago. Descontem por isso o meu gosto pessoal (os gostos não se discutem) e atrevam-se a esta história de um pianista virtuoso e muitíssimo ambicioso que fica sem uma mão num acidente e culpa todos pelo seu destino (a mulher, o fabricante de próteses, o agente, a ex-amante, os alunos...) menos, curiosamente, o motociclista que o atropelou.