O que ando a ler
Já tinha comprado este livro há bastante tempo, mas, por causa das arrumações das estantes que o Manel fez recentemente, foi parar à prateleira e, perdendo-o de vista, esqueci-me dele por uns tempos. Foi só quando fiz um fim-de-semana de descanso para festejar os meus anos, que já são muitos, que o levei comigo. Chama-se Temporada de Furacões, escreveu-o a mexicana Fernanda Melchor e, entre outras distinções, foi finalista do National Book Award para ficção traduzida e do Man Booker International Prize no ano em que saiu nos Estados Unidos e em Inglaterra. É para quem tenha estômago, devo dizer, porque bem podia chamar-se «Feios, Porcos e Maus», já que, além da mãe beata de uma das personagens (o jovem Brando, que é tudo menos isso), não há ali realmente ninguém bom e que se recomende. Vivemos no romance o México do interior, paupérrimo, cheio de narcotráfico, onde todos se drogam com coca, comprimidos e marijuana, onde bebem, se prostituem, agridem, batem, vão à bruxa, tratam mal com a língua e com as mãos, desconsideram os mais velhos, enfim, é mesmo tudo feio, sujo e terrível. A história começa com um grupo de miúdos que encontram um cadáver num canal de rega e, a partir dali, vamos conhecer as várias versões do que aconteceu, sendo que nenhuma delas é boa, aviso, e todas metem sexo, loucura e morte. O livro é muito bom, apesar de não ser fácil de ler porque tem longos parágrafos e fica quase impossível interromper a leitura sem ser no final dos capítulos. Devedora de Rulfo, mas com voz própria, Melchor é um nome a reter.