O que não muda
Sabemos pelas notícias de há uma semana para cá que existe uma coisa que não muda: a intolerância religiosa. O conflito israelo-palestiniano, que esteve meio adormecido por uns tempos, está agora ao rubro. Judeus e muçulmanos não se entendem e, no passado, foram os cristãos que expulsaram e perseguiram os judeus. É disso que fala o livro que hoje vos trago, Um Coração Convertido, de Stefan Hertmans (o autor flamengo do maravilhoso Guerra e Terebintina), a história de uma rapariga cristã de famílias nobres que, no século XI, se apaixona (e é correspondida) por um jovem judeu de uma escola rabínica. É por ele, de resto, que foge, muda de nome para Hamoutal e se converte ao judaísmo, embora nunca aprenda exactamente os ritos e orações da nova religião. Mas acaba por casar-se com o seu amado judeu, ter filhos e andar de terra em terra com cartas de recomendação de rabinos para rabinos, pois o pai cristão nunca deixa de oferecer uma recompensa a quem lhe traga a filha de volta num tempo em que os cruzados atravessam a França rumo ao Norte de África. Hamoutal perderá, de resto, o marido num massacre de judeus (e é este o mote que leva Hertmans a escrever esta história) e também o rasto dos três filhos, que nunca desistirá de procurar, viajando completamente sozinha até ao Egipto, uma proeza quase impossível para uma mulher do seu tempo. A par desta aventura louca, conta-se também a busca do autor pelos documentos que provam como tudo aconteceu.