O rato do campo e o rato da cidade
O título deste post é o de uma fábula que li na infância; e veio-me à cabeça por causa de um artigo publicado no Diário de Notícias sobre escritores que se afastaram da cidade e migraram para a "província". É sabido que, por exemplo, Alexandre Herculano, decepcionado com o rumo que a nação tomava, se exilou em Vale de Lobos e resolveu dedicar-se à agricultura; o mesmo fez o brasileiro Raduan Nassar, vencedor da mais recente edição do Prémio Camões, que escreveu três pequenos livros admiráveis e logo se recolheu numa fazenda. Mas, embora alguns autores que vivem longe da capital se queixem que é por isso mesmo que têm menos atenção da crítica e do público, hoje há muitos escritores activos que moram longe das grandes urbes – e não é por isso que perdem notoriedade. Sai-lhes seguramente mais barato (é o que diz o poeta Miguel Manso, que se mudou para perto da Sertã) e, quando precisam de parar para resolver alguns problemas das suas narrativas, o ar livre e a ausência de barulho e poluição tornam-se bastante mais agradáveis e inspiradores (é o que diz Luísa Costa Gomes a respeito dos quilómetros de areal que tem como vizinhos todo o ano). Com as estradas modernas e as comunicações sofisticadas, é hoje muito mais fácil viver fora dos grandes centros e não perder com isso. Mesmo assim, todos os entrevistados do artigo – Joel Neto e Afonso Cruz, além dos já mencionados – já viveram em Lisboa e foi aí, provavelmente, que o seu nome se firmou.