O senhor Lobo Antunes
Se há coisa de que não se pode acusar o escritor António Lobo Antunes é de escolher maus títulos: os seus títulos são sempre um primor, mesmo que frequentemente surripiados a versos de alguns dos seus confrades portugueses e estrangeiros, e o do seu mais recente romance não é excepção: A Última Porta antes da Noite. Vai seguramente correr-lhe bem, já que, nos últimos tempos, lhe têm acontecido coisas bem boas – e há períodos assim, em que parece que tudo se conjuga de forma positiva. Pois então, depois do mais famoso escritor português lá fora – Fernando Pessoa, pois claro –, foi a vez de António Lobo Antunes chegar à prestigiada colecção Pléiade, da editora Gallimard, um privilégio de que mesmo muito poucos podem gabar-se. Está contente o senhor Lobo Antunes, e estamos nós, por ver a França distinguir pela segunda vez um autor português, elevando-o à categoria de escritores como Kundera, Proust, Dickens ou Vargas Llosa, para mencionar apenas alguns. Se toda a gente comenta que Lobo Antunes perdeu a oportunidade de ganhar o Nobel da Literatura quando Saramago lho arrebatou há vinte anos, invalidando que o mesmo fosse para a língua portuguesa por um longo período, pois agora deve estar de papinho cheio.