O valor dos livros
Já escrevi aqui muitas vezes que ninguém rouba os livros quando assalta uma casa; e que serão cada vez mais raros os manuscritos de escritores encontrados, não sendo sequer credível que, daqui a vinte anos, ainda haja alguém a escrever num caderninho, à mão, e só depois passar ao papel... (Até poesia se escreve hoje em computador!) Do mesmo modo, a correspondência dos escritores com confrades ou editores tem os dias contados, e não terá assim muita graça que se reproduzam em biografias ou testemunhos e-mails, pois seria muito fácil, no fundo, inventá-los ou modificá-los (e eu nem sei nada de informática, imaginem os experts). Porém, enquanto ainda permanecem espalhados por aí bilhetinhos e cartinhas de gente famosa, há pelos vistos quem lhes deite o olho. Um jovem italiano apaixonado pelos livros desde criança estagiou durante um tempo numa agência literária londrina e apercebeu-se de que havia por lá vários manuscritos de autores consagrados, como, por exemplo, Margaret Atwood. Como não conseguiu ficar lá a trabalhar, fez-se então passar por quem não era, criou um endereço de correio electrónico falso e vai daí começou a pedir a vários autores textos escritos pelas suas belas mãos ao longo de...seis anos. Segundo o Observador, que conta a história, quando os recebia era como se continuasse a trabalhar na agência e nunca tivesse deixado a indústria editorial, como desejava. Não chegou a vendê-los, não chegou a apanhar os 20 anos de prisão que podiam ter-lhe sido aplicados, mas acabou por ser descoberto e, arrependido do que fizera, teve de pagar 82 mil euros... E ainda dizem que os livros não dão dinheiro.