Ofertas
Um dia, um autor meu ganhou um prémio literário e a entidade que o promovia pediu quatro dezenas de exemplares do livro galardoado para os patrocinadores; eram muitos, digo eu, e além disso foi logo sublinhando que esses livros não deveriam ir com carimbo de OFERTA. Pois bem, eram efectivamente oferecidos pela editora do livro premiado (e tenho ideia de que essa oferta nem era mencionada no regulamento do prémio), mas não podiam ser etiquetados como oferecidos? Bem sei que ninguém gosta de receber um livro carimbado… nem de dar, evidentemente, parece presente em segunda-mão. Mas esse carimbo incómodo tem uma razão de ser. Um dia não muito longínquo, vi à venda num quiosque exemplares de livros que publiquei há anos e se encontram fora de mercado (e, ao que sei, de que não resta stock na editora); também já vi alguns vendedores de rua comercializando títulos que eu publicara e ainda nem estavam disponíveis nas livrarias… Soube por portas travessas que havia gente que recebia os livros para recensão e outros fins (e gente que os surripiava nas gráficas também) e que ganhava dinheiro com os livros oferecidos que não lhe interessavam particularmente, passando-os a pessoas que aceitavam vendê-los em quiosques de jornais e tabaco. O carimbo foi apenas uma medida para evitar este tipo de especulação, e mais nada, mas nem toda a gente cabe no mesmo saco e eu percebo que algumas pessoas prefiram um frontispício limpinho, sem mácula. Eu prefiro, mas percebo.