Olimpíada
Parece-me que nunca teria chegado a ler a versão integral da Odisseia se a obra não tivesse sido traduzida para português, e bem! (obrigada, Frederico Lourenço, pelo incrível trabalho e pela elegância do texto em português). Mas, graças à tradução, li-a de fio a pavio e, desde então, tenho-a no coração como um dos mais belos textos que se escreveram (nem teria resistido ao tempo se assim não fosse), o primeiro – julgo – do cânone ocidental de Harold Bloom (e de todos nós). Também por isso, dei especial atenção a uma pequena notícia que saiu recentemente no Público, anunciando que o fragmento mais antigo desta obra atribuída a Homero – treze versos escavados numa placa de argila – foi encontrado no decorrer de escavações na antiga cidade de Olímpia por arqueólogos que há três anos «vêm trabalhando em torno dos vestígios de um templo de Zeus naquela região do Peloponeso, berço dos Jogos Olímpicos». A peça regista um pequeno excerto do Canto XIV da Odisseia, que descreve o regresso de Ulisses a casa e o seu reencontro com o porqueiro Eumeu. Transmitido oralmente durante séculos, o texto, ao que parece, foi registado em rolos ainda antes da era cristã, e este tesouro agora encontrado pode datar do século III. Que descoberta olímpica!