Os cães de Caracas
Ulises mora em Caracas no apartamento da mulher e dá aulas num workshop de cinema, mas tem cada vez menos alunos. Paulina – que nunca quis filhos e tampouco lhe permitiu ter um cão – decidiu ir-se embora do país... e não o levar. Mas, quando tudo começava a desmoronar-se na vida de Ulises, Nadine, uma paixão antiga, regressa à Venezuela; e, por outro lado, o sogro – o General Martín Ayala, que em tempos foi próximo de Hugo Chávez – deixa-lhe em testamento o enorme casarão da família, sabendo que só Ulises será capaz de pôr de pé nesse edifício uma fundação que acolha, trate, alimente e, se necessário, dê até sepultura a todos os cães abandonados de Caracas. A Paulina e ao irmão gémeo, curiosamente, não deixa nada... Entre as intrigas terríveis de Paulina e os lençóis da enigmática e volátil Nadine, Ulises será o cão vadio que recebe os restos da simpatia dos demais. Com um refinado sentido de humor e uma mestria narrativa difícil de encontrar, Rodrigo Blanco Calderón, que para a semana virá às Correntes d'Escritas, oferece-nos um romance tragicómico e grotesco sobre cães, amor, cinema, herança e identidade – e reflecte de forma bastante irreverente sobre o chavismo e as míticas figuras do Libertador Simon Bolívar e... do seu cão. Magistral.