Os homens preferem as louras
Há uns tempos, Lobo Antunes acusou Pessoa de ter «fornicado» pouco... Na verdade, até há pouquíssimo tempo, a única mulher que se lhe conhecia era Ofélia Queiroz (da família do poeta Carlos Queiroz), que tinha 19 anos quando Fernando se apaixonou por ela, sendo ele bastante mais velho (32, parece-me). A paixão foi clara, basta ler as cartas que estão há muito publicadas, nas quais o grande poeta desce ao domínio dos mortais e se torna quase um adolescente embasbacado e «ridículo» (como as «cartas de amor» de Álvaro de Campos). Depois de cerca de oito meses de namoro, a relação terminou; e, nove anos mais tarde, houve ainda uns meses em que namoricaram. E foi tudo quanto a amores na vida do génio... Ou parecia. José Blanco e o poeta espanhol Ángel Crespo insistiram em que havia outra, por causa de uns poemas escritos mais para o final da vida do poeta que mencionam uma loura, mas nunca conseguiram chegar a um nome; e, por mero acaso, o historiador José Barreto (que se interessa mais pelo lado filosófico do autor) encontrou duas cartas e somou dois mais dois, revelando que afinal a loira era real. Trata-se de uma inglesa a quem Fernando chamava Madge (Margaret Anderson) e era irmã de uma sua cunhada (além de mais tarde se ter tornado uma decifradora de códigos secretos durante a Segunda Guerra Mundial). Um artigo de Rita Cipriano recentemente publicado no Observador conta tudo, mas o melhor mesmo é ir à revista Pessoa Plural, em que Barreto explica como chegou lá.