Os intelectuais
Um dia destes encontrei uns apontamentos tirados durante uma conferência de Viritato Soromenho Marques em São Miguel a que tive o prazer de assistir em Dezembro passado. Tratava do papel dos intelectuais em tempos sombrios como os que vivemos, e apontei num caderno alguns requisitos para se ser intelectual, até porque me parece que há muitos que o não são mas que a maioria considera assim. Entre essa lista de características estavam possuir conhecimentos vastos, ter sentido de justiça e respeito pela verdade, bem como coragem para assumir posições que se calhar não agradam maioritariamente ao público; assumir a responsabilidade pelas consequências sociais dos seus actos, ter espírito crítico e exercer poder de influência; e, por fim, possuir uma ideia do tempo e do espaço em que se vive. Para Umberto Eco, porém, o intelectual está mais relacionado com quem «produz novos conhecimentos através da criatividade», explicando que um professor de Filosofia que repete, ano após ano, a mesma aula sobre Platão é menos intelectual do que o agricultor que encontra uma nova forma de enxertar macieiras e contribui para uma mudança de processo que benefiará a sociedade e o futuro. E acrescenta: alguém que tem «a habilidade de questionar, analisar e reinventar aquilo que fazemos [...] Essa é a única régua capaz de medir a atividade intelectual». Para mim, têm os dois razão, mas penso que temos cada vez menos intelectuais ao leme dos nossos países, ou estarei enganada?