Os livros chamam-nos
Pacheco Pereira é um homem muito lido, tem uma biblioteca tão grande ou maior do que as bibliotecas públicas (um armazém alberga-a, ao que parece) e são sempre boas as suas crónicas sobre os livros, as livrarias, a leitura. Não há muito tempo escreveu, aliás, um belo texto sobre a capacidade que os livros têm de chamar por nós, levando-nos a desejá-los, a comprá-los e... nem sempre a lê-los. Foi, pelo menos, o que se passou com ele recentemente – e nesse texto conta como adquiriu três títulos, dos quais, muito provavelmente, só lerá um de fio a pavio. Mas expõe no seu artigo um ponto de vista extraordinariamente interessante, que se prende com o facto de a curiosidade ser, segundo ele, o grande motor intelectual de sempre e de encontrar estranheza na circunstância de meio mundo a achar um defeito, e não uma qualidade, e de pouco se ter escrito ou debatido sobre ela, por muitas obras e colóquios que existam dedicados, grosso modo, ao conhecimento. E, ao falar deste aspecto que crê subvalorizado, avança também que ser curioso é meio caminho andado para se ser surpreendido e chamado por certos livros, mas que isto lhe acontece sobretudo em livrarias tradicionais, com os volumes em papel que ainda se podem folhear, pois, quando frequenta as livrarias virtuais, já sabe de que vai à procura e, portanto, não sente normalmente apelo nem surpresa. E, sendo um homem invulgarmente culto, tem a inteligência de dizer que o seu apego a certos livros que se calhar nem virá a ler tem que ver com a sua vontade de aprender, com a sua noção de que é ignorante em muita coisa, ao contrário de certos arrogantes incultos que crêem já nada precisar de ler ou saber (e são tantos). Termina o artigo declarando que, enquanto houver livros para ler, não terá um único momento aborrecido na vida. Concordo que, com livros à disposição, fiquemos salvaguardados do tédio, mas também há muitos livros chatinhos...