Os livros das caravanas
Gostaria muito de visitar uma exposição que estará apenas aberta até 9 de Abril em Las Palmas e, em Maio, se inaugura em Tenerife (mas não estou com planos de ir a nenhum desses sítios tão cedo). É uma mostra de fotografias de famílias mauritanas e dos documentos antigos que elas conservaram, alguns datados do século VIII, quando as rotas caravaneiras e mercantis atravessavam o deserto do Sara para trocar sal por ouro e iam parando pelo caminho. Pois parece que já nesse tempo levavam «livros» e documentos e que, ao deter-se nos oásis, os deixavam ali para serem copiados e lidos pelos que ali viviam, sendo apenas levantados no regresso. Eram copiados de forma mais ou menos rápida e ali ficavam depositados por séculos, servindo de meio de contacto com as cidades por quem ali estava tão isolado do mundo. Mais recentemente, foi dada formação a uma dezena de famílias em dois destes antigos oásis mauritanos para digitalizarem e restaurarem os documentos guardados, e a exposição mostra também, além das preciosidades, as fotografias destas famílias do deserto trabalhando para a conservação de um património incrível: tabuinhas, textos sobre astronomia, religião e matemática, tudo elementos que vêm mostrar que o Sara, longe de ser uma fronteira entre cidades povoadas, foi afinal uma espécie de «continuum cultural».