Ouvir livros
No mesmo mês em que saiu para os escaparates um romance que escrevi para ser um CD (e são dois, por acaso – os Romance(s), de Aldina Duarte), leio num blogue que as vendas dos audiolivros subiram vertiginosamente em todo o mundo e duplicaram em cinco anos no Reino Unido. Segundo me contaram há muito tempo, as inglesas gostam de ouvir histórias contadas pelos seus actores de eleição enquanto cozinham e passam a ferro – e eu cá acho esta actividade bem mais interessante do que dar atenção a programas estupidificantes de rádio e televisão (credo, até podiam queimar o assado ou a camisa do marido em alguns casos). De qualquer modo, decerto não são estas as vendas que justificam a multiplicação (mesmo que haja mais desemprego em toda a Europa, as donas de casa do Reino Unido dificilmente duplicaram em cinco anos). Pergunto-me, pois, quem compra – além dos cegos, claro, para quem são essenciais – estes CD de literatura lida em voz alta (nem sempre literatura séria, bem sei); e de repente lembro-me de um amigo flamengo que tive há muitos anos, que ouvia livros e fazia cursos de línguas no carro (foi assim que aprendeu a falar espanhol) por ser obrigado a filas de horas no trânsito de todas as manhãs. É uma bela hipótese, enfim, para quem fica trancado entre automóveis sem conseguir avançar – e talvez seja o que acontece a muitos dos que trabalham em Londres, por exemplo, mas têm de viver bastante longe da capital, em locais onde têm vivendas ou ainda podem pagar a renda e a gasolina.