Overdose
Vim de Penafiel há cerca de uma semana e tinha tanto trabalho à minha espera que ainda não consegui agradecer publicamente a homenagem que me foi feita pela Escritaria. (Faço-o aqui, desculpem.) Já lá tinha estado duas vezes enquanto editora: uma delas quando João Tordo recebeu o Prémio Literário José Saramago pelo romance As Três Vidas, a outra quando Mário Cláudio foi o escritor homenageado. E é a este último que roubo a palavra que titula este post e que está num balão de fala saindo da sua boca (trata-se de uma ilustração) numa exposição que se encontra na Biblioteca Municipal de Penafiel. E Mário Cláudio tem toda a razão, porque quem é homenageado na Escritaria sente uma overdose de si próprio: a cidade cheia das suas frases (ditas em entrevistas ou escritas em livros) esvoaçando em faixas pelas ruas e penduradas em fachadas de prédios; cheia também da nossa cara, com que estamos sempre a topar em variadíssimos materiais (até numa farmácia, numa caixa de medicamentos que tem escrita a expressão «remédio para a alma» e sugere a leitura de poemas nossos como terapêutica). Mas, melhor do que o busto, a árvore que é baptizada com o nosso nome, a escultura do livro aberto que inaugurámos no jardim (e que se acrescentam aos outros dos homenageados que já lá moram) e o quadro desvelado no Ponto C (um espaço cultural novo e excepcional) ou uma exposição inteirinha sobre a nossa vida nos livros, é conhecer as pessoas: não só os políticos, não só os programadores e a fantástica bibliotecária, não só artistas que deram conta da parte estética, não só os amigos que se juntam em conversas sobre nós e concertos em que se cantam palavras nossas, mas sobretudo aqueles que não conhecemos mas estão sempre ao nosso lado, que nos levam de carro de escola em escola, que nos apoiam nas entrevistas de bastidores, que nos trazem tostas mistas quando já desfalecemos de fome num dia que começa com actividades logo de manhã e vai até às 23h00. Gostei mesmo muito dos penafidelenses! Obrigada a todos todos os que fizeram esta Escritaria. Agora é preciso curarmo-nos deste excesso de admiração e amor e, pois claro, descer à terra.

