Palavras racistas
Lisboa é negra há muito tempo, pelo menos desde o século XVI, mas o Norte de Portugal, em comparação, é branquinho como a neve. Não sei se há mais racistas na capital ou nas cidades a norte, mas a língua que falamos é a mesma em todo o País (embora, claro, uma meia dúzia de portugueses se expresse por teimosia em mirandês e haja muitos regionalismos, alguns com um sabor tão doce e vivo que deveriam ser adoptados em toda a parte). Reparou, porém, uma escritora nas Correntes d'Escritas que, de norte a sul, usamos palavras «racistas» há muito tempo; e, para exemplificar, falou de «esclarecer» e «denegrir», associando o que é positivo (tornar claro) aos brancos e o que é negativo (escamotear) aos negros, olhando com atenção para as raízes destas duas palavras (claro/negro). Não sei se a opinião não será um pouco forçada, e a criação dos vocábulos nada tenha que ver com gente, e sim com claridade e escuridão, mas que tem o seu mistério, lá isso tem... E dizer que alguém que fez uma coisa horrível devia «pintar a cara de preto», pensando bem, ainda é mais esquisito.