Palavrões
Um dia destes, o linguista Marco Neves, autor de vários livros e de um blogue já aqui referidos, perguntava-se qual seria o palavrão mais comum usado em Portugal para poder responder à curiosidade de um amigo estrangeiro. E, hesitando na entrega de uma solução que não correspondesse à verdade, acabou por usar o Facebook para fazer uma espécie de inquérito a pouco mais de uma centena de pessoas. Não ficou muito convencido com o resultado (the f word), avançando que, se os contributos tivessem sido mais numerosos, o mais provável era ter chegado ao mais suave "merda" (a proposta era cada um dizer o que lhe sairia pela boca se desse uma topada na perna da mesa). Comigo, acertaria no "merda" (não vou muito além disso, confesso); mas vejo tanta miudagem a dizer "fogo" pela boca fora que, na verdade, talvez o veredicto fosse mesmo a palavra vencedora, que enfeita capas de livros (fazendo-os vender como pãezinhos quentes) com o subterfúgio do asterisco em vez do O. Mas onde terão ficado as saborosas imprecações que a minha avó usava em maus momentos, como "Raios", "Irra", "Poça", "Arre" ou "Livra"? Será que já desapareceram ou desaparecerão em breve com a morte dos mais velhos? Vamos deixar que os nossos ouvidos se acostumem ao "fogo" e ao "fosga-se", ou mesmo àquele palavrão bem nortenho que ainda faz corar, ou rir, os sisudos lisboetas? Já pensou qual é o seu palavrão?