Paradoxos
Há menos de nada li um destaque na plataforma que alberga este blogue (a Sapo) referindo uma leitura por outra blogger de um conto de José Luís Peixoto publicado na Visão há quase vinte anos e chamado "Minto ao dizer que minto". É um conto sobre o próprio autor, usado neste contexto como personagem, o que não é inédito na obra de José Luís Peixoto, pois uma das suas primeiras narrativas curtas, publicada salvo erro na saudosa revista Ficções, tinha-o também a si mesmo como personagem. Mas aqui o que me interessa é o título do conto ser um paradoxo, pois levou-me de repente ao Paradoxo de Epiménides, aprendido há séculos. Epiménides, que nascera em Creta, disse um dia: "Todos os cretenses são mentirosos." Mas, sendo ele cretense, está a mentir-nos, certo? Bem, este paradoxo, citado numa das Epístolas de S. Paulo, é um daqueles enunciados que é verdadeiro se for falso e falso se for verdadeiro, uma vez que Epiménides é cretense e, portanto, mentiroso. Quando publiquei alguns livros de paradoxos de Martin Gardner numa outra "reencarnação editorial", percebi que afinal poderia ter adorado matemática e lógica quando era aluna do liceu. Infelizmente, couberam-me matérias muitíssimo mais aborrecidas e professores incapazes de aplicar a matemática ao jogo e ao quotidiano. Recomendo, para quem não conheça, os livros bestialmente divertidos de Gardner, ilustrados por um artista com um traço parecido com o de Sempé. A matemática às vezes é tão incrível como a literatura, mesmo para leigos, como é o meu caso.