Pau de dois bicos
Estive recentemente no Luxemburgo para participar numa espécie de entrevista ao vivo no Salão do Livro (o jornalista era José Luís Correia, que fez belas perguntas) e ir a uma escola falar com crianças portuguesas. Já tinha lá estado uma vez, há uma dezena de anos, e chegara à mesma conclusão: os meninos e meninas nascidos já no Luxemburgo falam um português excelente, o que não acontece, por exemplo, com os filhos de imigrantes portugueses em França ou na Alemanha, que comunicam na língua do país de adopção e cujo português (talvez seja o que ouvem aos pais) está já francamente aculturado. Noutra entrevista que me fizeram para a rádio, mencionei esta ligação das crianças às suas raízes e à língua materna num tom francamente elogioso. Porém, num encontro com um deputado eleito pelos portugueses residentes na Europa, a quem disse exactamente o mesmo, ele tirou-me a venda dos olhos: disse-me que, em muitos casos, o facto de falarem o português sem interferências (do luxemburguês, do alemão, do francês) significava, infelizmente, que a integração não se tinha feito... Um pau de dois bicos, portanto.