Pelas próprias mãos
Por causa do homicídio de George Floyd, um negro americano que só tinha passado um cheque sem cobertura e foi morto por um polícia branco e sádico que o asfixiou diante de uma data de pessoas indignadas, muitas cidades norte-americanas estão agora a ferro e fogo, e os protestos estenderam-se à Europa, onde tem havido muitas e manifestações anti-racistas. O polícia em causa foi detido por ter decidido sozinho o destino de Floyd, sem respeito pela lei ou pela vida (esperemos que se faça justiça, claro). E, embora este assunto pareça intempestivo num blogue sobre livros, não o é, porque o que aqui me traz hoje, para matar saudades de um tempo em que me dedicava bastante a esmiuçar palavrinhas, é justamente uma palavra que tem que ver com a atitude desse polícia, «linchar». Se não sabiam, ficam a saber: no século XV, na cidade irlandesa de Galway, um senhor chamado James Lynch, que era uma espécie de presidente da Câmara, tornou-se conhecido por mandar para a forca o próprio filho depois de este ter matado um homem. Desde então, o verbo «to lynch» (em português «linchar») passou a significar fazer justiça pelas próprias mãos ou matar alguém (em grupo ou não) sem recurso a julgamento legal por uma ofensa cometida. Os linchamentos de negros repetem-se todos os anos nos EUA. Como diz uma amiga, neste momento não basta não ser racista, é mesmo preciso ser anti-racista.
Ligado ao racismo, recomendo um romance de James Baldwin que trata sublimemente deste assunto, Se Esta Rua Falasse. E um documentário notável, I'm not your negro, de Raoul Peck, sobre o genial Baldwin, que passou na RTP não há muito tempo. Gozem os feriados!