Pérolas
Quando era miúda tive uma professora de Matemática que um dia, ao descobrir que uma colega minha e eu estávamos a conversar e não tínhamos prestado atenção, disse que não gostava nada de «deitar pérolas a porcos». Enfim... Se fosse agora, talvez o Conselho Directivo ou a Associação de Pais a punisse ou chamasse à pedra pelo insulto, mas nesse tempo as coisas eram diferentes. De qualquer modo, as pérolas interessam-me hoje por outro motivo mais literário. Numa sessão de homenagem à escritora Rosa Lobato de Faria que ocorreu na quinta-feira passada, dez anos passados da sua morte, o ensaísta Eugénio Lisboa falou do preconceito que a Academia alimentou ao longo de muitos anos em relação aos livros que contavam bem uma história, crendo-os menores do que aqueles que privilegiavam o trabalho de linguagem. E usou uma imagem que é muito perceptível para a suma importância do fio narrativo que, segundo ele, é o que mantém de pé toda a construção literária. Disse que o que interessava na literatura eram as pérolas, sim, como a Academia defendia, mas que, se não houvesse fio, o colar estaria todo espalhado pelo chão. Achei bem interessante. No que me diz respeito, não foram pérolas deitadas a porcos.