Pérolas
Há muito que já queria ter começado a lê-la, mas meteram-se, como sempre, outras coisas pelo meio e lá ficaram os seus livros a aguardar. Mas numa destas noites, no intervalo já nem sei de quê, peguei em Devoção, de Patti Smith, e fiquei devota da artista também nesta sua vertente. Trata-se de um livrinho que se lê em duas noites, mas belo e sensível, sobre o que pode levar a escrever um livro (no caso, umas imagens de uma família da Estónia separada por Estaline a seguir à guerra) e, de facto, como esse livro pode ir mudando nas mãos do escritor à medida que a vida avança e se vivem situações que alteram até certo ponto a narrativa (umas imagens na televisão de uma jovem patinadora artística, os livros que se levam para ler numa viagem, o túmulo de Simone Weil em Inglaterra, pequenos-almoços no Café de Flore, em Saint-Germain). Devoção é uma novela sobre a devoção pela patinagem de uma adolescente estónia refugiada na Alemanha nos anos sessenta e, ao mesmo tempo, um texto sobre o porquê e o como dessa novela, incluindo fotografias de algumas páginas escritas pela autora no comboio e um texto que tanto é da jovem patinadora como da própria Patti Smith. Muito original, profundo, delicado, uma belíssima surpresa neste início de ano.