Pesadelo
Todos os escritores têm pesadelos, especialmente nas vésperas da saída dos seus livros. Em 2001, uns dias antes de ser publicado o meu segundo livro de poemas, sonhei que uma jornalista de quem eu não gostava me acusava de plagiar um poeta americano. Eu ia à procura do livro desse poeta e era obrigada a concluir que o meu era de facto uma mera tradução involuntária. Não conhecia o poeta, mas quem ia acreditar nisso? No sonho, o pior de tudo era que nem os meus amigos acreditavam em mim. Acordei nessa altura... Porém, nem o pior pesadelo pode equiparar-se ao que Naomi Wolf está a viver na realidade. A dias da saída do seu novo livro, a autora de História da Vagina recebeu uma lição horrível em directo num programa de rádio. É que a tese que defendia em Outrages: Sex, Censorship, and the Criminalization of Love assenta em casos de pessoas condenadas à morte por prática de sodomia e outros actos sexuais; só que a expressão «death recorded» nos documentos que consultou em vários tribunais não quer dizer «execução» ou «sentença de morte», como ela pensava, mas que o juiz se absteve de condenar o réu, convicto de que ele acabaria por receber o perdão real... A escritora nunca mais se vai esquecer disto, evidentemente, o problema é que todo o livro se baseia em casos que, afinal, não aconteceram e dos quais ela partiu para fazer uma longa reflexão que, afinal, não tem sentido. O editor já deve estar a pensar em quantos livros vão ter de pôr no lixo. Ui, isto é que é mesmo um pesadelo.