Pintainhos-elefantes
Um livro por dia. Não, não estou a falar de ler, mas de imprimir em casa, com uma máquina trazida de uma tipografia que a achava obsoleta, um livro por dia – e não um livro de texto, mas um verdadeiro objecto de arte. O italiano Alberto Casiraghy, ex-tipógrafo, poeta, artista plástico e até construtor de violinos, desde 1982 já imprimiu cerca de 9500 livros de forma artesanal – com caracteres móveis, claro, e cosidos à mão, homenageando autores de todas as línguas, incluindo portugueses, como Pessoa ou Graça Moura. A estes livros de poucas páginas em formato A5 chamou Pulcinoelefante (à letra, pintainho-elefante) e começou por fazê-los com aforismos e poemas da sua eleição, ilustrados por si ou por amigos com desenhos, pinturas ou fotografias, para oferecer ou vender aos mais próximos. Estava longe de imaginar que essas preciosidades (a tiragem nunca foi superior a 35 exemplares, reparem bem) acabariam por se tornar conhecidas em todo o mundo, tendo constituído, por exemplo, uma exposição na nossa Biblioteca Nacional no final do ano passado e valendo ao italiano o epíteto de mago. E já lá vão 9500... O que começou por ser um divertimento doméstico (e a máquina ocupa metade da sua sala) acabou por transformar este amante dos livros num artista singular, por trazer muitos pintores e intelectuais a sua casa (que tem sempre as portas abertas), desejosos de serem parte de um pintainho-elefante, e, mais recentemente, por fazer de Casiraghy um militante do livro em papel. Uma vida apaixonante que nem todos se podem gabar de ter, mesmo os que, como os Extraordinários, gostam muito de livros. Deixo-vos algumas imagens para perceberem melhor esta história de dedicação.