Poema contínuo
Não há dúvida de que há muito menos gente a ler poesia do que ficção, e este blogue é já uma prova disso, pois são muito mais os comentários, o interesse e as achegas quando falo de um romance do que quando menciono um livro de poesia (mesmo meu). O Manel um dia destes foi a uma sessão no Instituto Cervantes sobre Francisco Umbral (que é um verdadeiro poeta a escrever prosa) a propósito da saída entre nós de Mortal e Rosa, com tradução de Carlos Vaz Marques, pela editora Tinta-da-China; e veio de lá com uma história curiosa que o jornalista contou. Nos anos 1930, um poeta francês mandou alguns dos seus poemas para uma revista literária e, pouco depois, recebeu uma carta da direcção dessa revista elogiando os textos e dizendo que os publicaria. Como nesse tempo era hábito as revistas literárias em França pagarem os textos seleccionados, o poeta perguntou quanto iria ganhar com a publicação, ao que lhe responderam que... nada, pois pagavam apenas aos autores de prosa (como se um poema desse menos trabalho, enfim). Pois bem, como ele precisava mesmo de dinheiro, respondeu que então anulassem os versos e escrevessem tudo de seguida. Suponho que lhe pagaram, mas não sei o fim da história. De qualquer modo, é assim, tal qual, a prosa de Umbral, um «poema contínuo» deslumbrante.