Porto mais rico
Uma das vantagens de se ser convidado para um festival literário fora do País não é conviver com os conterrâneos do mesmo ofício, uma vez que a esses temos acesso todo o ano, se o quisermos, e a verdade é que não queremos assim tantas vezes, até porque podemos não simpatizar com alguns deles ou com as suas obras e preferimos não ter de o dizer. A vantagem é, na verdade, conhecermos os nossos confrades de outros lugares, pessoas que não têm qualquer ideia do nosso trabalho e por isso estão naturalmente abertas e curiosas como, aliás, nós sobre elas. Quantas vezes não me aconteceu ler um jovem autor completamente desconhecido para mim só porque o ouvi falar na mesa de um encontro de escritores a quilómetros de casa e me pareceu que só podia escrever livros interessantes? Aconteceu-me em França, num festival de poesia, travar conhecimento com um poeta espanhol que leio até hoje e um dia gostaria até de traduzir. Pois agora é a vez de uma autora que publico, Ana Margarida de Carvalho, ir representar Portugal a Porto Rico no Festival de la Palabra, que se realiza anualmente naquele país e cujo director é José Manuel Fajardo, um romancista espanhol residente em Lisboa. Será a única escritora portuguesa do cartaz e terá a oportunidade de se encontrar com colegas das letras de todo o mundo, maioritariamente de língua espanhola – colombianos, mexicanos, espanhóis (Javier Cercas e Rosa Montero, óptima companhia), entre outros – mas também alemães, haitianos e norte-americanos, além dos muitos porto-riquenhos que estarão a jogar em casa. Fico muito contente que tenha sido ela a escolhida este ano e tenho a certeza de que, com a sua presença, Porto Rico ficará ainda mais rico.