Pré-leitores
Embora eu ache que o gosto pelos livros e pela leitura é uma lotaria – e esse clique maravilhoso nem sempre acontece, fazendo com que alguns desistam às primeiras tentativas –, os especialistas dizem que o primeiro passo para que uma criança se torne leitora é ler-lhe desde pequenina, desde o berço ou antes ainda. Normalmente, o que os pais lêem aos filhos são histórias, mas num recente artigo de Catarina Homem Marques no Observador – citando um outro do New York Times, de Pamela Paul e Maria Russo, especialistas em literatura infanto-juvenil –, aprendi que o mais importante de tudo é a cadência da leitura, e não o que se lê – e por isso, para os pré-leitores de fraldas e chucha, podem ler-se receitas de bolos, manuais de instruções de electrodomésticos, bulas de remédio ou dicionários, porque tudo serve; no fundo, é como uma música – e os bebés, já se sabe, gostam de música, mesmo na barriga das mães. Claro que ouvir não chega e, mais tarde, os outros sentidos também contam: deixar os bebés mexerem nos livros, virarem as páginas mesmo antes de os pais lhas terem lido, receberem festinhas enquanto é feita a leitura para a associarem a uma boa companhia e à presença de alguém querido, tudo isso, numa primeira fase, é talvez mais importante do que o texto propriamente dito. E esta, hein?