Pronomes
Em tempos, recebi várias queixas por ter escrito aqui no blogue que uma pessoa que escrevia (e que eu publicara) era extremamente jovem mas «uma senhora escritora»; como essa pessoa era não-binária, levei nas orelhas da Comissão de Igualdade de Género por lhe chamar «senhora» quando na verdade estava a fazer-lhe um elogio. Mas, como um problema nunca vem só, descobri uma das queixosas num vídeo em directo a acusar-me de ter usado «o pronome senhora». Só que «senhora» é substantivo, e não pronome... É o que temos e os pronomes estão mesmo pelas ruas da amargura... Em primeiro lugar, porque uma tradução apressada do impessoal «you» entrou no português e nunca mais vai sair, substituindo um «nós» ou um «se» que seria muito mais normal em frases do tipo «É normal, quando chove, vestir-se/vestirmos uma gabardina» (em vez de «vestires», especialmente se não tratamos por tu o nosso interlocutor); mas ainda pior é termos comido definitivamente os pronomes reflexos em verbos como «reunir», «resignar», «derreter», «casar» e muitos outros, pois uma pessoa «casa-se» mas «casa o filho com uma rapariga adorável», e o pronome reflexo faz toda a diferença, embora hoje as pessoas só casem umas com as outras. É um desabafo porque, vindo a ouvir rádio antes de aqui chegar, soube que as pessoas agora não «se reúnem», apenas «reúnem», não sabemos é o quê.