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Uma das maiores alegrias de sermos editores é claramente podermos partilhar com os outros os livros de que gostámos muito e achamos que toda a gente deve ler. Penso que, com o avançar da idade e a enormidade de leituras que já fizemos, é cada vez mais raro esse encantamento; ainda assim, de vez em quando aparecem pérolas que nos fazem acreditar que ainda haverá muita coisa boa para ler no futuro e que o tempo que nos sobra não vai chegar para elas. Porém, também pode acontecer que, numa indústria que já esteve mais próxima do seu desígnio (cultural e formador), os editores deixem cair certos livros por saberem que não existem para eles leitores suficientes. Nisto, os editores independentes estão completamente à vontade e podem arriscar em obras de nicho, mesmo perdendo dinheiro; mas os editores assalariados, a menos que consigam vender bem livros difíceis às suas administrações, não terão outro remédio senão passar por cima de muita coisa que gostariam de publicar. Por isso, quando numa entrevista o editor Francisco Vale, da Relógio-d'Água, diz que quem publica coisas sérias como uma biografia de Agustina ou Cardoso Pires não devia fazer livros da Cristina, percebo-o, mas o problema é que ele é um editor independente que herdou uma quinta e tem dinheiro; e, se calhar, ao outro editor as vendas da Cristina são justamente o que lhe permite publicar as tais biografias... Tomara que não fosse assim, evidentemente, porém, num país onde se lê cada vez menos literatura, a vida do editor contratado é muito mais difícil do que pensa o editor independente.