Qual pátria?
Já aqui disse que, durante as minhas férias, li muitas páginas, mas poucos livros. Talvez tenham pensado que li sobretudo jornais e revistas, mas não: o que quis dizer foi que «papei» um calhamaço de 700 páginas que me ocupou quase duas semanas. Trata-se do aplaudido e multipremiado Pátria, de Fernando Aramburu: um grande romance que todos devem ler para entender da melhor forma possível o que aconteceu no País Basco com a ETA, os que abraçaram a «luta armada», as suas vítimas (não estou a falar apenas de juízes, polícias e políticos, mas de pobres diabos que, por terem meia dúzia de tostões, foram intimados a dar dinheiro para «a causa» e assassinados quando se recusaram a fazê-lo) e os que simplesmente nasceram em Donostia e tiveram de viver diariamente com o medo ao longo de muitos anos. O romance é exemplar, tomando como ponto de partida a história de duas famílias muito chegadas (dois casais e os seus filhos) e aparentemente inseparáveis – as mulheres tomando chá juntas na pastelaria, os homens andando de bicicleta aos domingos ou jogando cartas, as raparigas cúmplices nos momentos difíceis, os miúdos a aprenderem a andar de bicicleta na casa dos outros. O problema é que, numa das famílias, há um filho problemático (o do meio) que se torna etarra ainda adolescente e, na outra, uma morte às mãos dos terroristas… A narrativa começa, curiosamente, pelo fim: no dia em que a ETA anuncia a cessação da luta armada; e, mesmo que se trate de uma óptima notícia, é tarde demais para quase tudo, sobretudo para perdoar – ou talvez não. Um livro maravilhoso que mostra como a política marca as vidas dos cidadãos todos os dias das suas vidas e como, por vezes, a amizade é invencível.