Rasgos
Voltei a ser cronista, desta feita no jornal Mensagem. Quinzenalmente, recordo a Lisboa da minha infância e falo do que me faz saudades, baseando-me em histórias de família, muitas delas relacionadas com a minha mãe (talvez seja por isso que lhes pus o título genérico «Cidade-Mãe»). Gosto muito de crónicas, também como leitora, e na minha geração não posso deixar de mencionar as crónicas diárias de Eduardo prado Coelho no Público, cultas e leves ao mesmo tempo, e as semanais e modernas que celebrizaram Miguel Esteves Cardoso n'O Independente. Ele hoje escreve diariamente uma língua no Público, o que torna mais difícil manter aquele seu estilo de página inteira, mas às vezes ainda é tão bom como antigamente; um dia destes, elogiando o Diário de Lisboa, por exemplo, teve um desses rasgos e escreveu: «Se tirássemos o Diário de Lisboa do fio da história do jornalismo em Portugal, desmanchava-se a manta toda e ficávamos com os joelhos a bater nos cotovelos [...]» São frases assim que às vezes fazem a beleza de uma crónica e nos arrastam ao longo do texto. Ainda hoje temos cronistas muito bons (o escritor Afonso Reis Cabral está a começar mas já promete muito, assim como a escritora e crítica Ana Bárbara Pedrosa, cujo humor é impagável), e o nosso MEC é só um deles.