Recompensas
Os editores ingleses, como já aqui referi, compram pouca literatura estrangeira – mas, quando a compram, gostam do exótico. Em muitas reuniões com editores britânicos que tive no passado, no que toca aos romances de língua portuguesa, sempre estiveram mais atentos aos africanos e brasileiros do que aos portugueses. Isso explica, aliás, que a última edição do Man Booker International Prize tenha tido entre os seus candidatos ou finalistas Agualusa, Clarice Lispector ou Raduan Nassar, mas nenhum português, até porque são muito poucos os que estão traduzidos. Mas a verdade é que quem acabou por ganhar foi A Vegetariana, da sul-coreana Han Kang, outro livro bastante exótico. Eu, que raramente publico traduções, comprei esta pérola muito antes de saber que estaria entre os nomeados para o prémio e, mais tarde, entre os finalistas; mas correu-me bem, porque assim tenho a certeza de que o livro partirá com vantagem e chegará a um número maior de leitores. Uma recompensa, portanto, pela minha curiosidade (não sendo eu vegetariana nem nada que se parecesse, cheirou-me a coisa interessante quando li a sinopse e mandei vir o livro, e não me enganei, porque afinal um júri conceituado concordou comigo em que este livro é mesmo muito bom). Alegrias no trabalho que eu gostaria muito de replicar daqui a um ano ou dois com algum romancista português, que também já merecia uma tradução em língua inglesa e, porque não?, um prémio internacional. A Vegetariana sairá na rentrée com o selo das Publicações Dom Quixote e tradução de Maria do Carmo Figueira.