Recusar livros
Tenho dificuldade em recusar livros, mesmo quando sei que os não vou ler; e também de dizer logo que não quando me estendem aqueles sacos pesadíssimos nas Câmaras Municipais e nas bibliotecas, mesmo que à partida sejam coisas que não me vão interessar. Mas há quem não pense assim e faça até desse «não» uma afirmação de carácter político. Quiçá para se reconciliar com os professores, no Dia Nacional da Leitura Trump resolveu oferecer em nome da mulher às bibliotecas de escolas primárias que tinham atingido o padrão de excelência (uma em cada Estado) uma colecção de dez livros ilustrados pelo Dr. Seuss (bastante conservadores e cheios de lugares-comuns, mas também não seria de esperar outra coisa). E «mandou» também a sua Melania, que tem um rosto bem bonito, a algumas dessas escolas ler as histórias às crianças. Porém, a bibliotecária do Massachusetts cuja escola foi visada recusou o presente, dizendo que havia escolas de comunidades muitíssimo mais carenciadas que não tinham tido direito à oferta e que era a essas que deveriam ter sido dadas as colecções de livros. E que, além disso, os títulos daquela colecção eram demasiado caricaturais, com estereótipos antiquados, e um deles incluía mesmo comportamentos racistas. Antes de assinar, aconselhava dez títulos alternativos. Chama-se Liz Soeiro. Deve ser cá das «nossas».