Regresso ao Paraíso
Amanhã deverá estar à venda O Paraíso, de Paula de Sousa Lima, natural dos Açores, que foi o único romance a chegar à final do Prémio LeYa no ano passado. A sua história começa ainda durante o reinado de D. Carlos: os habitantes de uma recôndita aldeia resolvem castigar, certa noite, os praticantes de um pecado que consideram hediondo, deitando fogo à sua casa na orla de uma floresta paradisíaca. E é tal a sanha colectiva que só duas pessoas não participam do massacre: a parteira e o padre; conseguindo adiantar-se à tragédia, resgatam um par de gémeos recém-nascidos da cabana, baptizados e entregues nessa mesma noite a orfanatos. É depois à vida destes irmãos que assistiremos, separados e sem saberem que têm, algures, uma alma gémea. E, à medida que os autores do crime vão morrendo na aldeia – a própria culpa castiga –, a parteira nunca mais deixará de se perguntar pelos meninos que salvou, ignorando que o regresso deles à terra é uma possibilidade. Muito bem escrita e com personagens formidáveis, esta é uma narrativa sobre o preconceito e a incapacidade de fugir ao destino, algo lobo-antuniana, algo queirosiana também.