Relato de uma tragédia
Naquele dia, Griselda acordou com uma dor de cabeça insuportável e não se conseguiu levantar da cama. Teve de ser Flavia, a filha de seis anos, a lembrá-la de que tinha de ir para a escola. A mãe levou-a a custo e, já em casa, sentou-se ao espelho e maquilhou-se exageradamente, enquanto os filhos pequenos brincavam por ali. Mas a dor persistiu e, quando abriu a porta para dizer ao marido que não se sentia nada bem, Claudio ignorou-a (detestava vê-la maquilhada), desconhecendo a surpresa horrorosa que o esperava no regresso a casa. Griselda e Claudio, argentinos fugidos da ditadura e exilados em França, eram porteiros de uma escola onde a autora deste livro, sua conterrânea, os visitou em criança; e foi com a recordação da sua incredulidade perante os factos acontecidos naquele dia que, mais de trinta anos depois, resolveu contar esta história improvável de um homicídio e entrevistar todos os implicados: Griselda, Claudio, a pequena Flavia, a professora, até a advogada... E é pelas vozes de todas essas pessoas que saberemos como uma mulher que passou por tantos contratempos e desgostos desde a infância se tornou um monstro naquele dia e, ainda assim, depois do crime hediondo que cometeu, foi para a filha uma mãe amorosa. Baseado numa história verdadeira, Naquele Dia, de Laura Alcoba (que virá no final do mês a Portugal), é o relato incrível das causas e consequências de um acto inominável e da forma como por vezes basta uma palavra para desviar alguém do seu destino. Um livro que não se consegue parar de ler.