Renunciar
Vivemos numa Europa em decadência, mas ainda é a Europa em que podemos acreditar no Deus que escolhermos ou em nenhum. Na Arábia Saudita, um poeta palestiniano, Ashraf Fayadh, foi condenado à morte simplesmente por renunciar ao islão, e o seu pai morreu de ataque cardíaco ao ter conhecimento da notícia. Centenas de outros escritores juntaram-se então numa acção de protesto a nível mundial para o apoiar, realizando leituras públicas dos seus poemas numa campanha organizada pelo Festival Internacional de Literatura de Berlim. O objectivo principal era pressionar os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido para que intercedessem a favor de Fayadh, impedindo que as autoridades sauditas cumprissem a pena. Os poemas foram lidos na quinta-feira 14 de Janeiro em 122 eventos de 44 países numa acção convocada na semana anterior à divulgação do veredicto de um recurso interposto pelo poeta, no qual Fayadh argumentava que a sua condenação fora baseada em alegações falsas ou não provadas. No início do mês, os organizadores do Festival de Berlim enviaram uma carta a Barack Obama, David Cameron e ao governo alemão, assinada por 350 autores e associações, pedindo-lhes que interviessem no caso e que a ONU suspendesse a Arábia Saudita do Conselho de Direitos Humanos. Entre os autores que subscreveram o pedido estavam os prémios Nobel Mario Vargas Llosa e Orhan Pamuk. Até agora, nada. Que bom, enfim, ser escritor na Europa.